19.10.14
A Leitora
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
18.10.14
Adeus Baleizão
Heraclitus
Terminou há uma semana o pior ano da minha vida.
Havia uma sombra que cobria os meus dias e retirava alegria ao que antes me fazia feliz.
Embora tenha lutado sempre para que não me domina-se dias havia em que era quase insuportável. Mudei em mim muita coisa para terminar este ano. Valorizei cada pequena alegria e relativizei tudo o que me tornaria negativa e zangada. Ainda assim comia pior, diminui a minha participação social (o blog foi uma das vítimas), e escudei-me em poucos amigos (que conheciam a situação) e na família.
A razão da minha infelicidade era o meu trabalho. Uma parvoíce para quem está bem e uma realidade próxima para quem sente o mesmo.
Este foi o ano sob o domínio da expressão "aguenta". E aguentei, não fiquei deprimida, tive ajuda de muita gente e tive muita força interior para duas coisas:
1. Não deixar de sorrir, sempre.
2. Não descarregar as frustracções em ninguém.
Fui forte e capaz de mudar.
A semana que passou foi a mais feliz de toda a minha vida. Tinha todas as razões menos uma. Agora já acabou.
Viva a mudança e a serenidade.
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