27.4.14

Tristemente recuperado

Maravilhoso Sol de Inverno

"Já estava quase a chegar a São Pedro de Alcântara e resolveu meter pelo jardim. Disse de si para si que não havia luz como a de Lisboa, ao fim da tarde (...).
Visto do lado de cá, o Castelo de São Jorge, do outro lado, recortava-se em chapadas de ouro, banhado pela luz do poente, sobre massas compactas de verde, mais escuro aqui e ali, mais irregular a espreitar entre o casario neste e naquele ponto, entre as barbacâs e os telhados da baixa pombalina e alguma fachadas cor-de-rosa. Era osky-line daquela zona de Lisboa, com a sua carga histórica, os seus declives íngremes, o seu casario irregular, mourisco, medieval, renascentista ou pombalino, a coexistência amena dos seus palácios e das suas casa humildes, os seus tufos intermitentes de vegetação, os seus terraços e miradouros, o céu cenário ao mesmo tempo majestoso e popular, em diálogo íntimo com o rio, com as outras colinas e com a baixa, com a própria luminosidade e os panos de sombra forte gerados nos contrastes da volumetria, até com os seus bandos de pombas e gaivotas, com todos os elementos naturalmente "orgânicos" que funcionavam em liberdade(...)"

Vasco Graça Moura in O Enigma de Zulmira

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