26.3.13

A brasa à minha sardinha: CCB - 20 anos depois



No tempo das vacas gordas cavaquistas muito se fez pelos chamados mamarachos, projectos arquitectónicos sem jeito nenhum em termos utilitários e muitas vezes arquitectónicos. 
O CCB - Centro Cultural de Belém faz este ano 20 de idade e um programa de que sou fã - o Encontros com o Património na TSF - fez um especial sobre a efeméride. Para isso convidou Vasco Graça Moura, hoje à frente do CCB, Manuel Salgado arquitecto responsável pelo projecto e Teresa Patrício Gouveia, secretária de Estado da Cultura na altura inicial do empreendimento.
Algumas considerações pessoais sobre o CCB. Eu nunca gostei daquele projecto arquitectónico que considero feio e confuso. Não acho que se integre bem no local onde está, foi claramente projectado para brilhar, ser o rei da companhia, num local onde se pedia algo mais integrado. De facto é tão mamarracho e foi tão caro que nem construíram os dois módulos que estavam previstos depois do existente.
 Em relação à função acho que de facto foi uma boa maneira de aproveitar um acontecimento europeu para dotar Lisboa de um equipamento que não existia a nível do Estado, por exemplo não havia local para orquestras tocarem, para determinados tipos de exposições, etc, mas ficou muito aquém do que poderia ter sido. Por exemplo a, agora falada por razões tristes, Casa da Música no Porto, tem muito mais projectos ao nível da comunidade, como o coro com os sem abrigo da cidade, e pedagógico, com um calendário muito completo, do que alguma vez ouvi dizer que o CCB possuía.
Ao nível do usufruto do espaço este é horrível. Não gosto das múltiplas entradas - portas, portas, portas - com sinalização deficiente, da pouca  simpatia dos espaços comerciais, livrarias onde não apetece ficar e cafés demasiado descaracterizados - ou é cantina ou é café ou é restaurante para pessoas de classe média alta (não se come em tabuleiro pagando 15 euros por um prato). Acho que a única coisa mais ou menos agradável é a esplanada (e mesmo assim o jardim é pobre e a vista - maravilhosa - para o rio é apenas apreciada pela metade.
Para rematar toda  a questão ofende-me ouvir uma ex secretária da Cultura gozar - literalmente - com Marcelo Rebelo de Sousa, que na altura se insurgiu contra o empreendimento porque ele se localizava sobre um antigo cais da época dos descobrimentos que foi totalmente arrasado (há época ainda não existia a sensibilização para a arqueologia dos dias de hoje). Sublinho, a ex secretária de estado da Cultura. Sabemos que no local existia também um palácio do século XVI que os intervenientes nesta conversa acham ter sido homenageado com a construção da fachada de entrada do edifício exactamente sobre a fachada do palácio. Algo como "gosto muito da Torre dos Clérigos, vou fazer um prédio exactamente sobre a planta que ela ocupa"....
É bonito que este seja um programa sobre património e com suposto conhecedores e intervenientes do património que enchem a boca para defender um mamarracho, supostamente equipamento cultural de suprema importância, com salas às moscas (e com isto quero dizer sem programação) mas que rangem os dentes quando se trata de atacar o património histórico português! Se isto não é soberba não sei que seja.

3 comentários:

  1. Somos o país do mamarracho. Nem quero pensar nos milhões de fundos comunitários que foram gastos nesta construção quando teria ficado mais barato e seria muito mais interessante, desafiante e respeitoso ter reabilitado o património existente.

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    1. Parece que do fundo dos 20 anos da coisa ainda são mais ofensivos até porque os motivos para se construir o CCB nem parecem válidos. Por um lado nem há programação para o espaço e por outro afinal haviam espaços expositivos do Estado que apenas estavam a ser encarados preconceituosamente já que a Joana Vasconcelos está na Ajuda por exemplo. Enfim tudo isto me tira do sério...

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    2. Mas não se aprendeu nada. O novo museu dos coches é outro mamarracho exactamente com os mesmos problemas.

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