7.5.17

O que dizer dos 32 anos


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São 32 Primaveras.
Desde os 23 que não faço particular esforço em as comemorar.
Estes são dias estranhos. Um dia, lá no passado, nós e a nossa mãe, em esforço mímico, lutámos por esse meu privilégio, respirar. 
Agora, para além do beijinho de amor partilhado com a família, o dia trás-me sempre uma sensação de tarefas incompletas. Tarefas futuras, algumas conhecidas e outras não, que me angustiam na sua possibilidade. 
Isto é a metade em que olho para  a frente hipotética. A outra parte do dia é a olhar para o passado real.nostalgia foi mais forte
Não sendo saudosista sinto-me sempre nostálgica. 

Hoje a  nostalgia foi mais forte. 

No dia em que fiz 32 anos soube que a minha escola preparatória foi demolida.
Era provisória há 26 anos. Era velha e estava abandonada há uma meia dúzia mas era a minha (e a nossa) escola.

Lembrei-me de coisas avulsas.

Primeiro as sensações.
O vento do fim da tarde a soprar por entre as árvores (que árvores?) junto ao pombal.
A angústia de ter que jogar em equipa nas aulas de educação física (eu sou mais livros).
O nervoso miúdinho ao entrar na escola com uma mini saia nova (todas as raparigas combinavam um dia para ir de mini saia).
Jogar à sirumba no pátio entre risos e gargalhadas.
Campeonatos de diablo e o orgulho de ser a melhor (foi a única coisa na vida em que fui a melhor). 
O banco em que ouvi a primeira K7 de Smashing Pumpkins gravada pelo João.

Depois os locais.
A parede de tijolo onde decorria o jogo do mata. Todos alinhávamos sem vontade.
As casas de banho com o interior pintado de verde.
As traseiras da escola em que fumávamos aparas de lápis enroladas em papel vegetal.
As outras traseiras da escola para onde ia  ler o jornal Blitz nas tardes de terça.
A sala de música onde ensaiámos o "Estou na lua".
As paredes escritas com corrector branco "Joana + Djaló ASF".
A rádio-escola com músicas pedidas: Metallica, Entre Aspas, Backstreey Boys e Mamonas Assassinas. 

Finalmente as pessoas.
O Ganzas. Bochechas rosadas. Sem pai. Só mãe. O mesmo fato de treino todos os dias.
O Marco Paulo. Loiro. Vindo da África do Sul. Sem maldade.
A Zhara. Mais velha. Chumbava sempre. Gozada pela maioria fugíamos da escola quando se sabia que o "pai está a chegar com uma caçadeira".
A Mercedes de Vil. A glamourosa e malvada professora de EVT. Essa disciplina essencial.
A Limoneto. Professora de Françês sempre com um toque de aguardente. Uma jóia.
O Alex. Cabelo loiro cortado à tigela. Queria ser jogador de futebol à la Ronaldo. Hoje é vendedor da Meo.
Os amigos com filhos quase na idade em que nos conhecemos. 
Os amigos que já desapareceram.
Os que foram embora.

32 anos e a tua escola é demolida.
Bem-vindo à idade adulta.

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