10.4.16




O Soares Filho decidiu que não estava para ser ministro. Ou então achava que podia mais do que realmente podia. Entre o suicídio voluntário e o involuntário vai ficar sempre um ponto de interrogação mas o que me anda a incomodar mesmo é saber quem poderá ser um bom ministro da cultura. Não os houve, independentemente da cor partidária, desde que me lembro. De há 13 anos para cá, por a minha profissão prestar contas ao ministério da cultura, estou mais atenta e continuo sem discernir um único que se aproveitasse. E já se tentou de tudo: agentes culturais, humanistas (Carrilho? sic), músicos, escritores, antigos presidentes da câmara, produtores... Acho que se tem assistido a uma visão muito compartimentada da cultura de que é culpada, em parte, a divisão exagerada em institutos e centros dentro do ministério. Para fazer orçamentos é uma dor de cabeça porque é mais simples se estes forem estanques mas sendo estanques não há articulação. O que falta é uma visão de conjunto. 

A cultura é antes de mais um conceito e um meio. O conceito é essencialmente pessoal (o que eu assumo como cultura) mas também quantitativo (a quantidade de cultura de uma pessoa, comunidade e, neste caso, País). Ora neste ultimo ponto estamos - felizmente - bem colocados. Portugal tem vasta história cultural que cobre todas as artes e patrimónios e praticamente todo o globo. Ao nível individual, e basta falar com alguém de classe baixa em Londres e alguém de classe baixa em Lisboa, há uma falha de enorme envergadura. É aqui que este ministério tem que actuar. Na articulação com a educação. Tem que se explicar qual a vantagem de conceder subsídio ao filme X, porque é que a peça Y é pertinente ou a exposição X, financiada com os nossos impostos, deve ser visitada por todos. Num Estado democrático a cultura não pode ser da elite tem que ser de todos. Trabalho frequentemente com pessoas sem a 4ª classe que (e viva a democratização dos meios de informação) devoram documentários sobre animais e história. Ainda assim, a título de exemplo, acham que os Jogos Olímpicos foram inventados por Hitler (a sério aconteceu). Na cultura, tal como mais especificamente no património, acarinha-se e preserva-se o que se entende e para entender é preciso conhecer. Não é só distribuir apoios aqui e ali de uma maneira autofágica.

Do outro lado da moeda está a cultura como meio. Meio de atracção para gerar receitas ,isso mesmo! Porque se estamos de acordo que esta é uma economia capitalista estamos de acordo que é preciso gerar dinheiro. E as coisas não se podem manter apenas com os nossos impostos. Esta linha de pensamento foi seguida de dois modos muito diferentes em países como França e Inglaterra. No primeiro caso iniciou-se há muitos anos o licenciamento das obras nos museus para fins comerciais (qualquer obra que apareça num filme, por exemplo, foi licenciada). Em Inglaterra, com a política de acesso gratuito às exposições permanentes dos museus nacionais criou-se um mercado: as pessoas voltam regularmente para as exposições temporárias, sempre muito bem montadas e de grande interesse e acabam por investir muito nos souveniers. Em Portugal caiu o Carmo e Trindade com a gratuitidade dos domingos. Que os museus não iam ter lucro, que se ia  ter que cortar no pessoal, etc... Ora os museus não devem ter lucro com os seus acervos permanentes, que estão em exposições montadas há mais de 20 anos e que pertencem a todos nós, os cidadãos. Devem isso sim investir na formação e rotatividade de exposições (temporárias e pagas) e na divulgação da sua imagem e espólio (souveniers). Estes últimos para além de dois catálogos sempre disponíveis (da exposição permanente e da temporária, uma utopia... não existem em lado nenhum) deveria incorporar vários suportes das peças expostas que se enquadrassem numa política de preços (dos muito baratos aos muito caros) e de tipo de público (desde as crianças até aos idosos passando por várias profissões).

Este texto não tem grande unidade mas saiu a quente por isso aqui fica para memória futura. A cultura é dos ministérios com mais potencialidades, deve ser gerido por alguém que não é uma estrela rock mas sim pessoa de reflexão. A cultura, antes de mais, deve ser pensada.

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