19.3.16




De todas as vezes em que bati no fundo da existência, para além dos braços amigos que me ampararam as quedas com actos e palavras, sempre foram os livros que me salvaram. Não faço colecções mas recolho as minhas memórias de vida por entre as páginas dos livros que li. É um género de palimpsesto em que as ruas de Madame Bovary se mesclam com o cheiro característico a verão de um olival em Baleizão. As histórias de Philip Roth misturam a crise da poliomielite (Nemésis) e as areias salgadas da Páscoa algarvia. Ler na praia é ler na esplanada! Quando em casa (demasiado andarilha não me encontro lá sempre) passo os dedos pelas lombadas dobradas e remeto-me automaticamente para uma específica amendoeira em flor cita em Trás-os-Montes sob a qual conheci Jorge Luís Borges. Por vezes quero acreditar que há melhor que isto (um sorriso, um cheiro, um olhar) mas nada fica de modo tão permanente gravado em páginas de histórias do que os contos memorizados da nossa própria vida.

Amanhã há feira de antiguidades em Coimbra. Dia de abastecer pois então!

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