26.12.13




DIA 51

Invento hoje para ti este falso poema de amor egípcio:
"A tua casa é o meu coração e o teu perfume enche de...
nostalgia as minhas noites. Pelos meus braços vens ca-
minhando nua, com a doçura da gazela e a brevidade
suicida das flores do hibisco. O meu coração dá abrigo
a um grande amor, como a palmeira protege as tâma-
ras dos ventos do deserto ou a romã se transforma em
cofre para guardar os seus rubis. Não há armadilhas
montadas no percurso que te leva à minha cama, e na-
da será perturbado pelo júbilo de beijar todas as síla-
bas que a tua boca pronuncia. És em mim. Estás em
mim. Há-de o meu coração ficar em ruínas e, assim
mesmo, defenderá o teu corpo, a tua vontade, e o teu
sorriso que tem a envergonhada cor da flor do lótus.
Há-de o meu coração calar-se, mas esse silêncio não
impedirá a promessa de uma eterna noite de amor."


JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011)

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