3.11.13

Fui a Vila Chã e chorei




Há uma terra, para os lados do Barreiro, que se chama Vila Chã. Depois de morta, a Rosa, minha avó, foi para lá.
Vila Chã nunca tinha existido para  mim. Hoje é um sítio que visito de tempos a tempos. Na sexta-feira, por saber que a avó Rosa gostaria, fui lá. Sentei-me na borda da campa e conversei com a avó Rosa como sempre o fiz, voz alta, olhos expressivos e sorriso na cara. Contei-lhe dos amores, da minha vida nova em Beja, da minha mana caçula e de como está a viver bem a vida, dos meus pais no seu amor de décadas e da minha prima, caloira este ano. Falei-lhe do que gostava que ela tivesse presenciado (a defesa da minha tese, que lhe dediquei; a minha casa, onde há tanto dela) e disse do que tinha saudades (os abraços com amor, as conversas ao telefone, os beijinhos intermináveis, a canja, a cerelac, o arroz doce e os biscoitos).
Levantei-me e ao fundo da campa, chorei! Há amor, há saudade!
 
A minha avó nunca morou em Vila Chã. Foi um dos acasos da vida (ou da morte) que ditaram que era ali que ela iria ficar. A minha avó mora debaixo das videira, onde em criança se deitava a comer uvas directamente da árvore. Mora em todas as ruas de Campo de Ourique onde viveu a felicidade que envolve os recém-casados. Mora nas lezírias do Ribatejo, onde os frutos são silvestres, os touros seguem com o olhar os que passam nos caminhos e a sopa é da Pedra. Mora no braço da minha mana caçula onde está tatuada a frase que tanto dizia e mais nos marcou, não uma frase poética mas sim uma frase feita - a vida é maravilhosa. Mora em nós, nos nossos gestos, palavras e hábitos.
 
Fui chorar a Vila Chã mas, diariamente, sorrio onde estiver. É um sorriso de avó Rosa.

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