20.10.13

Teatro Rápido - O Arquivo


 
A peça de que mais gostei. A peça que mais me incomodou.
Há um género de acordo entre os actores e o público que, se nunca se verbalizou, pelo menos se sente num teatro regular. A penumbra que envolve a plateia serve tanto para esconder as reacções de quem assiste como para dar mais conforto ao actor, que assim não se confronta com as centenas de olhos postos em todos os pontos do seu corpo.
Em O Arquivo, a sala é mínima, terei contando dois bancos corridos com uns 8 lugares (dos quais 6 estavam preenchidos), dispostos em ângulo recto em torno do palco (sendo que os outros dois ângulos rectos eram constituídos por paredes). O efeito é um pouco claustrofóbico, o que se pronuncia mais quando os actores fazem o que lhes compete - actuar - e nos usam para fixar o olhar.
Quando se ultrapassa esta situação (se se ultrapassar, eu acho que a estranheza da posição onde me encontrava, tão perto da acção teatral nunca desapareceu) e a peça se desenrola percebemos que a proximidade serve bem o propósito do que viemos presenciar.
Num arquivo de livros (estranhamente livros que parecem ter saído das estantes cá de casa) uma mulher arruma-os em estantes, como é esperado da sua função, e um homem lê, recusando-se a coloca-los nos seus lugares. Toda a cena se torna muito kafkaniana ( e, de facto, Kafka e a sua metamorfose são parte essencial à compreensão do que algo se passa) e a questão que emerge é só uma: quando é que estamos mortos para o mundo (a sociedade?). Arriscando continuar: quando é que somos excluídos? Como podemos deixar de o ser?
Também há Oscar Wilde. Uma pequena cereja em cima de um generoso bolo.
 
Recomendo. 


De 3 A 28 DE Outubro
Sessões: 18:05, 18:35, 19:05; 19:35, 20:05
Texto e encenação de Hugo Biscaia Barreiros
Interpretação: Gonçalo Brandão e Soraia Tavares
Fotografia : Sérgio Dinis
Co-produção:
Mecanismo Criativo

Sem comentários:

Enviar um comentário