1.2.13

O beijo



"Quem rouba um beijo e não rouba o resto merece perder os favores prometidos."

"Quem aceitou um beijo e não aceita tudo, merece perder aquilo que recebeu."

Ovídio  

Não me lembro do meu primeiro beijo. Quando escuto as minhas mais antigas memória já sou a flausina beijoqueira que se mantêm até hoje. Sei que na pré-primária era já uma serial kisser, a tentar imitar o que via em imagens na televisão ou revistas (não é educação libertina porque a minha mana é uma santa, é mesmo feitio). Embora seja enternecedor ver para o que me dava, o facto de a partir do momento em que vesti uns cueiros nunca mais ter parado de colar os meus lábios a outros faz com que hoje não tenha a memória, que a maior parte acarinha, do primeiro beijo.
Claro que me lembro dos primeiros beijos, daqueles que damos a alguém por quem nos apaixonamos, e nesse campo tenho memórias quentes, com tremeliques, quase de coração na boca. Memórias boas.
Há também os beijos inesperados, ou aqueles que se vão desenhando em poucas horas. Uma saída fora da caixa, com um amigo ou conhecido mais antigo e o modo de olhar muda. Esses são cheios de ansiedade  e algum temor. O que fazer a seguir? Depois de nos deixarmos levar pelos sentidos?
E beijar um desconhecido? Já me aconteceu e digo que..é muito  bom! É seguir a biologia, o desejo primário...apetece e toma lá! O facto de não existirem preconceitos, de ser apenas o momento é das sensações mais libertadoras que já experimentei. Depois, cada um vai à sua vida, desconhecidos como dantes.
Coisa que odeio são os beijos roubados. Esbugalho os olhos e fico piurça.
Estas pequenas memórias foram despertadas por um questionário que pretende definir o perfil do beijo português (podem fazê-lo aqui). Entre outras coisas há uma pergunta sobre se já me tinha arrependido por não ter beijado alguém. Depois de alguma ponderação respondi "nunca". Beijei quem quis e não deixei nenhum ósculo por dar. Os que não dei não tinham que ser.  


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