25.1.13

Coração




Onde está meu coração
Que outrora batia descompassadamente?
Talvez ancorado num cais perdido
Talvez esquecido num areal longínquo
Ou quem sabe, nunca tenha assim batido...

Onde poderá estar?
Nas cordas dum violino
Chorando acordes melancólicos
Num beco sem saída, num temporal
Naufragado num oceano
Envolvido num sudário de estrelas do mar
Ou na etérea neblina da floresta
Caminhando como um insano perdido, quem sabe...

Recordo vagamente, como pulsava em mim
Procuro incessantemente sem o vislumbrar
Retenho em mim memórias vagas
Lembranças diáfanas.

Meu coração, agora sem rosto
Deixou de sentir, pereceu
Em seu lugar está uma ferida, mal cerzida
Já esqueci a razão pela qual sorria
Neste tempo, sem tempo
Onde, fugazmente, a vida aconteceu.

Não quero calar a voz que dói em mim
Numa preamar, quem sabe, logo de madrugada
Num eco do mar, eu o posso encontrar
Ou uma gaivota, protegendo-o em suas asas
Mo possa devolver, sem coros ou lamentos
Quero-o de novo, pulsante ardente
Quero-o, quero-te coração, em mim novamente!


CECÍLIA VILAS BOAS, in O ECO DO SILÊNCIO (Esfera do Caos, 2012)

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