28.8.12

Do Estado ser estadinho (ou de como é que se pode ser Estado sem se saber o que é Serviço Público)




É verdade que sou tendenciosa. Não tenho TV em casa, o pouco que vejo é na casa dos pais ou nos cafés. Mas, mesmo sabendo o papel que tem a RTP2, um verdadeiro desafio à política mercantil de hoje, em que tudo o que não dá lucro acaba (e nisto insere-se a cultura portuguesa e muitas vezes a ciência), eu não acho que o seu encerramento seja um desastre total. Há já muito que a sua programação estava descuidada (hello 5 noites 5 filmes) e eram poucos os programas a que não se tivesse acesso através dos canais por cabo, nos dias de hoje muito disseminado.

Por isso o que me preocupa é a venda (ou coisa alforrecamente semelhante) da RTP1. Se dois canais do estado (de SERVIÇO PÚBLICO) tem um custo insuportável (que as pessoas e instituições que consomem electricidade pagam indiscriminadamente, como eu, que nem TV tenho) que se acabe com um, mas que aquele que fica cumpra o papel para que foi criado e que no meu entender é apresentar programas que mesmo que não dêem lucro, ou sejam outsiders, são de exibição fundamental para os cidadãos (mais uma vez, aqueles que pagam) e nisto não se inserem as séries da Plural que ficam muito bem na TVI, mas já se inserem os filmes portugueses, que o financiamento e posterior exibição na TV pública ajudariam a suportar o CINEMA em Portugal. Não é o Preço Certo (cuja função de ajudar a contar em euros há já muito terminou) mas os Jogos das Selecções Portuguesas (todas!). São programas de música verdadeiros (onde se inclua todos os géneros) e não um Top + miserável à boleia das tabelas de vendas. São reportagens de fundo, documentários de autor, curtas metragens, peças de teatro, o Regiões, a Sociedade Civil, programas decentes de entrevista (que não sirvam o Estado mas o cidadão), transversais, talk shows sem censura ou interesses comerciais, programação infantil e juvenil estruturada e pedagógica, coisas sem audiência como o Direito de Antena, a Fé dos Homens, O Tempo e a Gente, Biosfera, etc.

Não é certamente um canal cujo dono é angolano ou uma empresa privada que vai entender o que é Serviço Público. Sobretudo se nem o próprio Estado o entende.

Para terminar.. há uma rádio pública e nacional neste País, caso único, em que existem programas de autor, com numa linha definida, programação diária com locutores formados em bom português e dicção correcta, espaço informativo que privilegia a difusão cultural e que não trata os ouvintes como se fossem atrasados mentais. Essa rádio é a Antena 3. E por programas como o M de Mónica Mendes, o Coyote de Pedro Costa  , ODAJOANA de Joana Dias, A Hora do sexo com Raquel Bulha e Quintino Aires, Canções com História de José Paulo Alcobia e Pedro Costa, Música sem Filme de Paulo Castelo, Planeta 3 de Raquel Bulha, Portugália de Henrique Amaro   e o Indiegente de Nuno Calado eu sou muito mais música e muito mais feliz porque muitas vezes a minha alma foi salva por um programa de rádio. Acabar com esta rádio é um crime cultural. Mais um.

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