14.7.12



A propósito do post anterior.

Poesia e beleza porque não há algo mais triste do que viver num local sem o habitar. Não saber olhar o que nos rodeia, sejam pessoas, situações ou objectos sem se entender o seu papel. Passar pela vida com palas nos olhos não é melhor que não existir. E a poesia está nos pequenos detalhes. Naquelas folhas de jornal junto ao caixote do lixo, nos degraus gastos das escadas de entrada de um prédio devoluto, na flor que teima em nascer junto à estrada,  nas pessoas que se cruzam connosco no comboio, cada um com um destino diferente e como isso, se estivermos atentos, se torna evidente nos seus rostos.

Romance (ou paixão) é daquelas coisas inexplicáveis da evolução humana. Há uma função muito concreta para esse sentimento efusivo de que o mundo é pequeno para toda a nossa plenitude, aquele sentimento que nos faz ter os lábios secos só de pensar no outro, a barriga às voltas e a cabeça bem acima dos nossos ombros. É uma garantia de fidelidade. Quando nos sentimos assim tão preenchidos por outro não pensamos em mais ninguém. Assim sabemos sempre quem são os pais dos filhos (nature says it). Mas esta embriaguez sem álcool, embora muito catastrófica (muitas vezes) no fim de contas, é das coisas que mais nos move de tal modo que embora saibamos bem o que custa quando as coisas dão para o torto continuamos a insistir vezes e vezes seguidas. Ainda há quem insista em teorias tipo "design inteligente" para os seres humanos.

E o amor? O amor é o que nos une. É o fio de Ariadne que nos leva sempre de volta a casa. Que como se diz, e bem (por isso vale a pena repetir) é onde o nosso coração mora. E não é na caixa torácica.

Sem comentários:

Enviar um comentário